por Bruno Couto Pórpora
Acredito que devo um atrasado - porém merecido - agradecimento ao canal de TV à cabo Sony, por impedir que prosseguisse como pessoa estúpida e pedante ao exibir o documentário "Living With Michael Jackson", há 5 anos atrás. Lembro-me perfeitamente que estava na casa de uma tia e, antes de viajar, forcei-me a não esquecer de tal especial que, segundo os sites de fofoca em geral, era simplesmente "bombástico". Simbolicamente, esta era a casa da mesma tia cuja filha havia me apresentado ao astro quase dez anos antes.
Michael Jackson foi um dos meus maiores ídolos de infância. Era apaixonado por suas músicas, seus vídeos visionários, sua imagem mágica e misteriosa e seu carisma estelar. E era isto. Tinha uma profunda admiração pelo seu talento extraordinário, mas nada sabia de sua pessoa. Ademais, minha pré-adolescência coincidiu com uma era em que Jackson passou a ser tomado como um personagem-piada do inconsciente popular e eu, em meu doentio hedonismo, achava graça de sua difamação pública. Talvez tenha sido uma rara retomada de humildade que, em minha imbecilidade juvenil, me impeliu a assistir ao documentário sem intenções maliciosas.
Se no espírito humano possa ocorrer o que os religiosos definem como "conversão", eu experienciei a mudança de minha vida ao término daquele documentário. Quando Michael Jackson disse ao "jornalista" Martin Bashir as seguintes palavras "Na sua mente, você nunca esteve onde eu estive", tive a certeza de ter conhecido, em 90 minutos, um homem de uma humanidade que não acreditava que pudesse existir. De uma humanidade que, talvez, eu já tivesse desistido de acreditar. Fui dormir entorpecido, em meio a sonhos com aquele Michael da minha infância, fugindo dos fotógrafos em "Moonwalker" no SBT, com sua cool roupa preta de Bad, mesclado à estátua da liberdade de Black Or White em ruas escuras Beat Itanas e, latejante, aquele Michael recém-descoberto, o Michael With a Child's Heart, o Michael que, daquele momento em diante, tornou-se inevitalmente meu herói.
Poucos meses seriam até que o pesadelo maior de Michael e de seus fãs tivesse início. Jackson foi preso, acusado de abuso sexual de um menor de 13 anos, para o deleite da imprensa mundial. Minha dor pessoal por Michael pôde ser compartilhada em outra experiência transformadora de minha vida - a convivência com os fãs ou, como prefiro, os supporters de Michael Jackson, aquelas pessoas que partilhavam dos mesmos valores que ele e que amavam a pessoa de Michael por personificar tais valores. Árduos tempos aqueles, de indignação, revolta, nervosismo, sofrimento e, em especial para mim, de amadurecimento. Foi Michael minha identificação maior nos definidores anos da adolescência. Tenho plena consciência de que devo minha formação como pessoa à integridade e força sobre-humanas de Michael Jackson, pois foi ele quem estampou na minha TV, todos os dias daquele julgamento, ao chegar à Corte fazendo um "V" de vitória, que tudo o que eu havia aprendido com ele não eram apenas palavras bonitas. Não era um juvenil e ingênuo idealismo ou fanatismo, como muitos gostavam de julgar à época. Era de verdade!
Passada a absolvição, Michael tem mantido um low profile nos últimos três anos, fora dos holofotes, a não ser em eventuais premiações (MTV Japan, WMA) e alguns mais recentes ensaios para revistas. Nada mais do que merecido, e qualquer ser que se auto-declare minimamente fã de Michael Jackson desejaria a ele, depois do inferno pessoal que viveu, nada menos do que a felicidade, esteja ela onde ele encontrar. Só que seria mais conveniente se ele encontrasse tal felicidade voltando a fazer álbuns e turnês milionárias, não?
Acontece que, depois de três anos de uma experiência transformadora para mim, me pergunto onde diabos foram parar os verdadeiros supporters de Michael Jackson. Teriam todos eles ido cuidar de suas vidas, como fez Ms. Tenda? Só deste modo poderia ser explicado o desfile de cretinices que tenho lido, cada vez mais, de auto-declarados fãs de Jackson.
Comecemos: Michael Jackson está obviamente interessado em retomar sua carreira musical, o que deveria ser motivo de empolgação aos tais fãs, já que, sofrendo o que sofreu, demonstra ainda uma surpreendente força de vontade para voltar a interagir com o público (coloque-se no lugar dele e imagine se você teria tal força). Vale lembrar que ele já ressaltou, em entrevista à Oprah, que nos exaltados tempos de Thriller não era feliz. Em todo caso, isso pouco importa a estes tais fãs. Mais do que demonstrado interesse, Jackson está gravando já há certo tempo e, de mês em mês, pipocam declarações de seus colaboradores. Neste caso, a controvérsia (leia-se santa falta do que fazer) entre os “alleged fans” é de que Michael escolheu os colaboradores errados (tolinho ele!) e por isto, conclusivamente, o disco não será bom. Percebe-se claramente que os tais fãs tiveram acesso exclusivo às novas gravações para um julgamento tão apurado ou então, sabe-se lá, desenvolveram algum inovador sistema de musicopatia onde eles recebem, em suas maravilhosas cabecinhas, todas as novas idéias musicais de Mr. Jackson para o álbum! Santa mediocridade acefálica!
Talvez um dos comentários mais patéticos que tive o desprazer de ler é de que Michael Jackson é um prostituto pelo re-lançamento de Thriller deste ano. Curioso, cobram novo álbum e cobram com qualidade, mas não podem esperar o criador completar a criação (fosse para lançar o que desse na telha, já tinha saído... ou alguém acha que Mr. Jackson está a brincar de fazer música no que é provavelmente o álbum mais esperado de sua carreira?)! Enquanto isso, Thriller 25 foi simplesmente a melhor investida na imagem de Michael em anos. O resultado, todos sabemos. 25 anos depois, é um dos dez discos mais vendidos de 2008 com quase 3 milhões de cópias. Foi um excelente projeto de re-introdução de Michael Jackson no mercado fonográfico, embora não tenha agradado boa parte dos senhores de engenho/fãs de Michael, seja por não ter sido o "novo álbum" ou por, em sua demência abismadora, acreditarem que seu lançamento atrasou o disco novo (?) (Traga-me ó Ceus o disco novo de Jackson para minha ínfima existência! Sem ele não vivo, não respiro, só sei falar mal de Invincible...); ou ainda por Michael ter usado remixes de algumas faixas de Thriller como material extra para o disco, cometendo o sacrilégio maior: blasfemar a santa hóstia! Ó Michael, por quê nos tortura dessa forma? A fazer o que bem queres, da forma que bem entendes, na obra que tu mesmo criastes...
Do modo que as lamentações fóbicas foram feitas para Thriller 25, se repetem para a nova coletânea King Of Pop, coleção esta que tem apenas um singelo apoio da Som Livre com direito a comerciais na Rede Globo. É evidente: fãs de Michael Jackson não querem ver seu ídolo vendendo discos!
O que me surpreende mais, muito além da trivialidade dos desocupados que se põem a malhar os lançamentos, é a desumanidade daqueles que acreditam piamente que Michael lhes deve alguma coisa, e por não lançar tal disco novo, põem-se a fazer beicinho e chamá-lo de vagabundo. Não acrescentam nada à comunidade e acreditam ter direito à tal "opinião". Certamente esse pessoal não trabalhou metade do que eu e muitos outros trabalharam no passado para trazer material de qualidade aos fãs, nem sofreram o que nós sofremos com o julgamento... no entanto, são eles os primeiros a exigirem que Jackson seja um subordinado às suas vontades, como se a condição de fã garantisse o direito de decisão no que ídolo deve ou não fazer e ainda como fazer (Michael Jackson Fast Food, aguardamos o seu pedido!). Esquecem facilmente que, há três anos atrás, Michael poderia simplesmente ter perdido sua vida e liberdade, liberdade esta que ele usa hoje para gravar as músicas que em breve serão escutadas e apreciadas pelos mentecaptos que já as condenam! Afinal, somente desalmados poderiam classificar Michael Jackson, escravizado pelo sucesso desde a infância, de vagabundo.
O que esses seres, parasitas do sucesso de Michael Jackson, acreditam que ele ainda tem a provar com tal disco novo (para satisfazer suas "vidas" pífias, é claro) está além da minha imaginação. Como mito, seu posto já está assegurado há 25 anos. Como performer, recebeu de Astaire as seguintes palavras: "é o dançarino do século!". Como músico, criou algumas das maiores canções pop da história. Como pessoa... só os supporters poderiam entender quando digo que nem a sacrossanta Billie Jean chega aos pés do homem que, humilhado por ousar viver diferente, disse a Corey Feldman: Ninguém nunca vai me impedir de ser quem eu sou.
É lamentável que, passado três anos, os fãs que dizem o amar tenham esquecido, ou sequer aprendido, o que aquilo verdadeiramente significava...
Este artigo foi originalmente postado no tópico: [Out/2008] Perda de Memória Recente iniciado por Administrador
Acredito que devo um atrasado - porém merecido - agradecimento ao canal de TV à cabo Sony, por impedir que prosseguisse como pessoa estúpida e pedante ao exibir o documentário "Living With Michael Jackson", há 5 anos atrás. Lembro-me perfeitamente que estava na casa de uma tia e, antes de viajar, forcei-me a não esquecer de tal especial que, segundo os sites de fofoca em geral, era simplesmente "bombástico". Simbolicamente, esta era a casa da mesma tia cuja filha havia me apresentado ao astro quase dez anos antes.
Michael Jackson foi um dos meus maiores ídolos de infância. Era apaixonado por suas músicas, seus vídeos visionários, sua imagem mágica e misteriosa e seu carisma estelar. E era isto. Tinha uma profunda admiração pelo seu talento extraordinário, mas nada sabia de sua pessoa. Ademais, minha pré-adolescência coincidiu com uma era em que Jackson passou a ser tomado como um personagem-piada do inconsciente popular e eu, em meu doentio hedonismo, achava graça de sua difamação pública. Talvez tenha sido uma rara retomada de humildade que, em minha imbecilidade juvenil, me impeliu a assistir ao documentário sem intenções maliciosas.
Se no espírito humano possa ocorrer o que os religiosos definem como "conversão", eu experienciei a mudança de minha vida ao término daquele documentário. Quando Michael Jackson disse ao "jornalista" Martin Bashir as seguintes palavras "Na sua mente, você nunca esteve onde eu estive", tive a certeza de ter conhecido, em 90 minutos, um homem de uma humanidade que não acreditava que pudesse existir. De uma humanidade que, talvez, eu já tivesse desistido de acreditar. Fui dormir entorpecido, em meio a sonhos com aquele Michael da minha infância, fugindo dos fotógrafos em "Moonwalker" no SBT, com sua cool roupa preta de Bad, mesclado à estátua da liberdade de Black Or White em ruas escuras Beat Itanas e, latejante, aquele Michael recém-descoberto, o Michael With a Child's Heart, o Michael que, daquele momento em diante, tornou-se inevitalmente meu herói.
Poucos meses seriam até que o pesadelo maior de Michael e de seus fãs tivesse início. Jackson foi preso, acusado de abuso sexual de um menor de 13 anos, para o deleite da imprensa mundial. Minha dor pessoal por Michael pôde ser compartilhada em outra experiência transformadora de minha vida - a convivência com os fãs ou, como prefiro, os supporters de Michael Jackson, aquelas pessoas que partilhavam dos mesmos valores que ele e que amavam a pessoa de Michael por personificar tais valores. Árduos tempos aqueles, de indignação, revolta, nervosismo, sofrimento e, em especial para mim, de amadurecimento. Foi Michael minha identificação maior nos definidores anos da adolescência. Tenho plena consciência de que devo minha formação como pessoa à integridade e força sobre-humanas de Michael Jackson, pois foi ele quem estampou na minha TV, todos os dias daquele julgamento, ao chegar à Corte fazendo um "V" de vitória, que tudo o que eu havia aprendido com ele não eram apenas palavras bonitas. Não era um juvenil e ingênuo idealismo ou fanatismo, como muitos gostavam de julgar à época. Era de verdade!
Passada a absolvição, Michael tem mantido um low profile nos últimos três anos, fora dos holofotes, a não ser em eventuais premiações (MTV Japan, WMA) e alguns mais recentes ensaios para revistas. Nada mais do que merecido, e qualquer ser que se auto-declare minimamente fã de Michael Jackson desejaria a ele, depois do inferno pessoal que viveu, nada menos do que a felicidade, esteja ela onde ele encontrar. Só que seria mais conveniente se ele encontrasse tal felicidade voltando a fazer álbuns e turnês milionárias, não?
Acontece que, depois de três anos de uma experiência transformadora para mim, me pergunto onde diabos foram parar os verdadeiros supporters de Michael Jackson. Teriam todos eles ido cuidar de suas vidas, como fez Ms. Tenda? Só deste modo poderia ser explicado o desfile de cretinices que tenho lido, cada vez mais, de auto-declarados fãs de Jackson.
Comecemos: Michael Jackson está obviamente interessado em retomar sua carreira musical, o que deveria ser motivo de empolgação aos tais fãs, já que, sofrendo o que sofreu, demonstra ainda uma surpreendente força de vontade para voltar a interagir com o público (coloque-se no lugar dele e imagine se você teria tal força). Vale lembrar que ele já ressaltou, em entrevista à Oprah, que nos exaltados tempos de Thriller não era feliz. Em todo caso, isso pouco importa a estes tais fãs. Mais do que demonstrado interesse, Jackson está gravando já há certo tempo e, de mês em mês, pipocam declarações de seus colaboradores. Neste caso, a controvérsia (leia-se santa falta do que fazer) entre os “alleged fans” é de que Michael escolheu os colaboradores errados (tolinho ele!) e por isto, conclusivamente, o disco não será bom. Percebe-se claramente que os tais fãs tiveram acesso exclusivo às novas gravações para um julgamento tão apurado ou então, sabe-se lá, desenvolveram algum inovador sistema de musicopatia onde eles recebem, em suas maravilhosas cabecinhas, todas as novas idéias musicais de Mr. Jackson para o álbum! Santa mediocridade acefálica!
Talvez um dos comentários mais patéticos que tive o desprazer de ler é de que Michael Jackson é um prostituto pelo re-lançamento de Thriller deste ano. Curioso, cobram novo álbum e cobram com qualidade, mas não podem esperar o criador completar a criação (fosse para lançar o que desse na telha, já tinha saído... ou alguém acha que Mr. Jackson está a brincar de fazer música no que é provavelmente o álbum mais esperado de sua carreira?)! Enquanto isso, Thriller 25 foi simplesmente a melhor investida na imagem de Michael em anos. O resultado, todos sabemos. 25 anos depois, é um dos dez discos mais vendidos de 2008 com quase 3 milhões de cópias. Foi um excelente projeto de re-introdução de Michael Jackson no mercado fonográfico, embora não tenha agradado boa parte dos senhores de engenho/fãs de Michael, seja por não ter sido o "novo álbum" ou por, em sua demência abismadora, acreditarem que seu lançamento atrasou o disco novo (?) (Traga-me ó Ceus o disco novo de Jackson para minha ínfima existência! Sem ele não vivo, não respiro, só sei falar mal de Invincible...); ou ainda por Michael ter usado remixes de algumas faixas de Thriller como material extra para o disco, cometendo o sacrilégio maior: blasfemar a santa hóstia! Ó Michael, por quê nos tortura dessa forma? A fazer o que bem queres, da forma que bem entendes, na obra que tu mesmo criastes...
Do modo que as lamentações fóbicas foram feitas para Thriller 25, se repetem para a nova coletânea King Of Pop, coleção esta que tem apenas um singelo apoio da Som Livre com direito a comerciais na Rede Globo. É evidente: fãs de Michael Jackson não querem ver seu ídolo vendendo discos!
O que me surpreende mais, muito além da trivialidade dos desocupados que se põem a malhar os lançamentos, é a desumanidade daqueles que acreditam piamente que Michael lhes deve alguma coisa, e por não lançar tal disco novo, põem-se a fazer beicinho e chamá-lo de vagabundo. Não acrescentam nada à comunidade e acreditam ter direito à tal "opinião". Certamente esse pessoal não trabalhou metade do que eu e muitos outros trabalharam no passado para trazer material de qualidade aos fãs, nem sofreram o que nós sofremos com o julgamento... no entanto, são eles os primeiros a exigirem que Jackson seja um subordinado às suas vontades, como se a condição de fã garantisse o direito de decisão no que ídolo deve ou não fazer e ainda como fazer (Michael Jackson Fast Food, aguardamos o seu pedido!). Esquecem facilmente que, há três anos atrás, Michael poderia simplesmente ter perdido sua vida e liberdade, liberdade esta que ele usa hoje para gravar as músicas que em breve serão escutadas e apreciadas pelos mentecaptos que já as condenam! Afinal, somente desalmados poderiam classificar Michael Jackson, escravizado pelo sucesso desde a infância, de vagabundo.
O que esses seres, parasitas do sucesso de Michael Jackson, acreditam que ele ainda tem a provar com tal disco novo (para satisfazer suas "vidas" pífias, é claro) está além da minha imaginação. Como mito, seu posto já está assegurado há 25 anos. Como performer, recebeu de Astaire as seguintes palavras: "é o dançarino do século!". Como músico, criou algumas das maiores canções pop da história. Como pessoa... só os supporters poderiam entender quando digo que nem a sacrossanta Billie Jean chega aos pés do homem que, humilhado por ousar viver diferente, disse a Corey Feldman: Ninguém nunca vai me impedir de ser quem eu sou.
É lamentável que, passado três anos, os fãs que dizem o amar tenham esquecido, ou sequer aprendido, o que aquilo verdadeiramente significava...
Este artigo foi originalmente postado no tópico: [Out/2008] Perda de Memória Recente iniciado por Administrador
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Há tempos eu não via um texto/artigo tão bem escrito.
E cai como uma luva para os tempos que estamos vivendo.
Então deixo aqui a minha indignação:
FUCK post25; Fuck Fake Fãs; Fuck quem faz de Mj, WJ!
FUCK YOU ALL!
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